Gelinhos, copos de vidro e geração tiktok - Tassinari Cafés

Gelinhos, copos de vidro e geração tiktok

Fica difícil não amar os inúmeros vídeos de reels e tiktok feitos pelo batalhão de jovens geração Z e alpha (pessoas na faixa dos 20 anos ou menos). Eles são esteticamente bonitos e iluminados, usam copos de vidro estilosos, gelos pequeninos e fofos e mesclam com chocolates ou texturas que enchem os olhos.

Os sons de preparo e músicas de fundo são sempre bem agradáveis, sendo gerado um efeito ASMR que atrai até quem pensa que os sons foram espontâneos. Doce engano. A geração de jovens atual é incrível quando o assunto é ser um creator, e vídeos criativos, completos e rápidos são sua especialidade.

Como uma pessoa nascida bem no gap millennial/geração Z, é engraçado ter a sensação de que a internet nasceu quase ontem. Vivi em minha infância e adolescência a metamorfose ambulante da tecnologia: computadores de tela pequena e cauda longa se transformando em telas planas, tablets ou telas pequenas de celulares. A cada dia que passa redes sociais nascem, morrem ou se transformam e o ritmo de acesso à tudo não para de ser frenético. Ao mesmo tempo que tenho a sensação de ninguém aguenta mais informação digital o tempo todo, a sobrevivência profissional e até mesmo pessoal dependem disso.

Chego à conclusão de que se tem alguém não saturado com a internet, essa pessoa é da geração alpha, nascida após 2010, e provavelmente se denomina tiktoker.

Eu poderia discorrer uma análise geracional da sociedade sobre ansiedade e outros temas, mas não, chegou a hora de falar sobre como tudo isso tem a ver com café. Sim, por sorte o café tornou-se uma hype muito bem-sucedida entre as pessoas jovens, cabe a mim agora decifrar o formato fabuloso por trás de vídeos de 15, 30 ou 60 segundos.

Enquanto hablavamos a beça sobre cafés especiais, café sem açúcar ou extrações em métodos exóticos, a geração nova nos deu uma rasteira maravilhosa dizendo que não quer dar bola para nada disso.

Regra número um para vídeos de mídias: movimento, estética e sons em primeiro lugar! Encher os olhos com coisas bonitas e agradáveis vale muito mais do que o conteúdo de boca.

Mas, espera, eu também queria testar o conteúdo na boca!   

A primeira coisa que me chamava atenção, além dos lindíssimos copos de vidro insulado, era a quantidade absurda de gelo sendo colocada em bebidas como iced coffee, iced latte, mochas etc. Cheguei a comprar as forminhas de fazer pequenos gelos, porque de alguma forma as minhas não fabulosas formas de gelo tradicionais pareciam erradas.

Ok, observação número um: estamos trabalhando com muito gelo, vai ficar aguado, óbvio.

Não desisti e passei a estudar o caso a partir dos elementos chave: muito gelo, café, leite, creme por cima, sorvete, chocolate, caldas, simple syrup… opa! Ta aí. Talvez a geração nova não seja tão surpreendente assim! O modelo açucarado à la Starbucks dos anos 90 se apresenta com roupagem nova, mas com o mesmo conteúdo: leite, bastante açúcar e café extraído de forma bem intensa, afinal, não tem como um café suave se destacar nessa concorrência de boca desleal.

Aha! Entendido. Podemos destrinchar as novas gerações então em dois grupos de café: as pessoas que entendem que café vai muito além do tradicional, podendo ter origem, diferentes torras, gostos básicos distintos e aromáticos inusitados e as pessoas que gostam do bom e velho modelo leite + açúcar.

Estou julgando? Não. Entendo que há momentos para ambos os casos acima, mas sempre lembrando de que quando são usados elementos externos o café perde seu brilho individual e passa a fazer parte de um conjunto harmonizado.

Quando produzimos bebidas com altas quantidades de caldas, açúcares ou derivados do leite, a gente precisa pensar na intensidade do café. Se não conseguirmos trabalhar o café com mais corpo e até mesmo com amargor, vai ficar difícil dar contraste à bebida.

Tratando-se então de bebidas construídas com uma base “pesada”, como é o caso das do Tiktok, temos que nos organizar com o café. Não estou falando que não importa o café que usaremos, e sim que se optarmos por cafés de torras mais claras ele simplesmente irá se perder na bebida.

Outro fator importante é o método de extração: quanto mais intenso o café do método, mais relevante ele estará na composição da bebida. Já que o assunto é intensidade, a dica é optar por espressos (cápsulas são uma pedida legal para receitas caseiras), mokas italianas ou até mesmo concentrados de cold brew (se você ainda não sabe fazer por favorzinho clique aqui).

A conclusão que chego é que a hype do café tiktoker é divertida e apetitosa, mas não se adequa ao dia a dia. Seria contraditório pensar que as gerações mais novas consumiriam o café de todo dia em uma forma tão açucarada e gordurosa, ainda mais se tratando de jovens muito mais conectados à saúde, sustentabilidade e impactos sociais de produtos.

No final das contas, por estarmos tratando de gerações novas, toda essa tour não seria apenas uma questão de evolução do paladar? É um caminho comum de evolução natural adicionar elementos atraentes e depois ir aparando as arestas para que possamos aproveitar o melhor da coisa por si só, sem interferências. Foi assim comigo e provavelmente com você também.

Se formos pensar bem é assim com tudo na vida.

Um grande abraço,

Gabriela Tassinari